Judas Isgorogota
(pseudônimo
de Agnelo Rodrigues de Melo)
Atitudes
A poesia em mim era uma asa andeja
que
voava noite e dia
e
eu andejava, desde menino,
na
asa da poesia.
—
"Triste é o destino
dos
poetas!" o meu pai dizia.
"Onde
há poesia não há pão!"
E
minha mãe que, além de sertaneja,
possuia
um coração, como todas as mães:
—
"Pois que faça poesia!
A
poesia é o melhor dos pães".
Quando
chegou a hora
de
trabalhar, ser gente,
fazer
da vida uma linha reta,
ela
que até ali fora uma linha curva
espinhosa
e difícil... mar em fora
saí,
para lutar valentemente.
Acontece
que eu era apenas um poeta...
Mas,
ao fim, encalhei, como outros muitos barcos
desarvorados,
no
ancoradouro de um jornal;
vida
de sonhos e ordenados parcos,
que,
entretanto, me dava o que eu queria:
um
pouco de ideal,
de
liberdade e poesia.
E
um certo dia:
—
"Jornal é a sensação do cotidiano!
É
a vida terra-a-terra!
Nada
de poesia!"
Só
agora é que vejo, céus, quanto tempo perdido...
E
agora, olhando para trás, eu vejo,
comovido,
que,
em meio a tanta desilusão,
ainda
assim me ficou a quietude
que
me anima e conforta.
Enfim,
nem tudo foi em vão:
hoje
sei que no mundo, a poesia
está
morta...
Aquilo
que era a essência da alma humana
não
mais existe... Em luta, diária, insana,
tudo
se digladia...
O
homem, para vencer, precisa odiar
a
própria poesia!...
Mas,
agora que estou aposentado,
com
toda a minha experiência
dos
homens, e do mundo atormentado;
dos
mistérios da vida e da divina essência;
hoje,
que longe vai a juventude;
hoje,
que vivo como um pássaro
que
pressente chegar, por entre rosas,
a
paz idílica das últimas
auroras
e dos últimos crepúsculos;
eu,
hoje, resolvi tomar uma atitude
definitiva,
corajosa,
entre
as mais corajosas:
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