Este
livro é o livro dos remorsos,
inventário
de um tempo hoje disperso:
nele
sou luz e cor e me despeço,
sou
também treva e sonho e, nele, endosso
a
sede de ternura e a minha fome
de
ser só o que sou, nele me expurgo:
eu,
neste livro, não me evado ou fujo
e
aceito a cinza hostil que me consome.
Há
muito quis fazer este inventário,
mas
me faltou o ócio da manhã,
além
do ócio, o sal, a palha, a lã
e
o alfabeto manchado dos diários.
Ao
escrevê-lo eu sou pedra e chama,
memória
de um tempo conturbado:
nele
me oferto inteiro e tatuado
rendido
à solidão que me reclama.
Escrevo
uma canção para quem ama
e
entre extremos se perde e se procura:
a
vida que se busca e se tortura,
insônia
que me invade e que me inflama.
Aqui
contabilizo o dever e o haver,
o
momento fraterno e a omissão:
aqui,
serenamente, o coração
deixa o que fui e
sou acontecer.
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