A casa não só
lembrança
(Visita à casa onde nasci e morei até os oito anos,
em Barra do Canhoto, hoje Rocha Cavalcante-AL-12/5/2007).
Aos meus irmãos Iolanda e Wellington
A casa fechava a rua
à flor da terra pousada
como ave que descansasse
ferida em uma das asas
sujinha e tão maltratada
triste e tão desamparada
que de repente menino
eu corri para abraçá-la:
− o abraço mais comovido
no estranho e sofrido abraço.
Então me chegam lembranças
as mais vividas e amadas:
− café coado no bule
leite de cabra o mais puro
cuscuz de milho ralado
passos suaves no escuro
(pois ainda é madrugada)
e uma carícia tão leve
mais sentida que lembrada.
E o amanhecer cheirando
a doces cajus maduros
mangas-rosa e goiabas.
E o alvoroço das galinhas
de namoro com os galos.
Movimentos na cocheira
alguém selando um cavalo
um cavalo que era branco
que se chamava Asa Branca
só não lembro se voava
ou se ele nasceu de um sonho
ou se foi de alguma fábula
mas sei que ele relinchava
e que levantava as patas
quando o dono o esporeava.
E que havia um menino
menino que imaginava
ser o príncipe encantado
que esse cavalo montava.
E na casa amanhecida
que boceja pelos quartos
se espreguiça pela sala
mexe em panelas e pratos
e que ri com os meninos
eu ouço uma voz ralhando
a mesma voz que contava
encantadoras histórias
histórias da carochinha
aos seus três filhos que ouviam
maravilhados sentados
numa janela da casa.
Depois de um breve silêncio
ninguém passando na estrada
só longe o apito de um trem
somente o apito. Mais nada.
E aí fui rever o rio
pois o rio me chamava.
Não sei se o rio que vi
é o mesmo rio que guardo
rio que é mais nas enchentes
que é quando o rio extravasa
porque é manso e um pouco estreito
e em alguns lugares raso.
Mas se era dia de sol
meu rio reverberava
como se de lantejoulas
lantejoulas prateadas.
E era bom ver seus lajedos
de lavadeiras florados
e os mulungus e ingazeiras
sombreando suas margens.
Ver meu rio de águas claras
com um menino nadando
entre peixinhos dourados.
Chego ao final da visita
bem muito mais visitado.
E ao partir não sei por quê
senti que alguém me chamava
− vi então duas crianças
que alegremente brincavam
e ouvi chorando um menino
não sei se dentro de mim
ou se era dentro da casa.
(Fonte: http://www.imprensaoficial.al/repository/files/tijolo-sobre-tijolo-palavra-sobre-palavra.pdf .)
à flor da terra pousada
como ave que descansasse
ferida em uma das asas
sujinha e tão maltratada
triste e tão desamparada
que de repente menino
eu corri para abraçá-la:
− o abraço mais comovido
no estranho e sofrido abraço.
Então me chegam lembranças
as mais vividas e amadas:
− café coado no bule
leite de cabra o mais puro
cuscuz de milho ralado
passos suaves no escuro
(pois ainda é madrugada)
e uma carícia tão leve
mais sentida que lembrada.
E o amanhecer cheirando
a doces cajus maduros
mangas-rosa e goiabas.
E o alvoroço das galinhas
de namoro com os galos.
Movimentos na cocheira
alguém selando um cavalo
um cavalo que era branco
que se chamava Asa Branca
só não lembro se voava
ou se ele nasceu de um sonho
ou se foi de alguma fábula
mas sei que ele relinchava
e que levantava as patas
quando o dono o esporeava.
E que havia um menino
menino que imaginava
ser o príncipe encantado
que esse cavalo montava.
E na casa amanhecida
que boceja pelos quartos
se espreguiça pela sala
mexe em panelas e pratos
e que ri com os meninos
eu ouço uma voz ralhando
a mesma voz que contava
encantadoras histórias
histórias da carochinha
aos seus três filhos que ouviam
maravilhados sentados
numa janela da casa.
Depois de um breve silêncio
ninguém passando na estrada
só longe o apito de um trem
somente o apito. Mais nada.
E aí fui rever o rio
pois o rio me chamava.
Não sei se o rio que vi
é o mesmo rio que guardo
rio que é mais nas enchentes
que é quando o rio extravasa
porque é manso e um pouco estreito
e em alguns lugares raso.
Mas se era dia de sol
meu rio reverberava
como se de lantejoulas
lantejoulas prateadas.
E era bom ver seus lajedos
de lavadeiras florados
e os mulungus e ingazeiras
sombreando suas margens.
Ver meu rio de águas claras
com um menino nadando
entre peixinhos dourados.
Chego ao final da visita
bem muito mais visitado.
E ao partir não sei por quê
senti que alguém me chamava
− vi então duas crianças
que alegremente brincavam
e ouvi chorando um menino
não sei se dentro de mim
ou se era dentro da casa.
(Fonte: http://www.imprensaoficial.al/repository/files/tijolo-sobre-tijolo-palavra-sobre-palavra.pdf .)
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