terça-feira, 26 de maio de 2015

Carniça, de Almir Guilhermino da Silva














Carniça



O amor não coube mais em mim
Atravessou a rua sem olhar de lado
Não cumpriu suas promessas
Nem tão pouco se importou com quem ficou
Pulou o muro e caiu em outros braços

(O amor me deixou assim feito um bagaço)

Cuidado, então, ao andar aí
Seus pés talvez não saibam aonde dói
O calo que me arde o cotovelo

Aberto em cicatrizes, inda supura
Portanto, olhe direito:
Mas se aviso agora tarde e pisas
Poquei, quebrei, murchei
Não tem problema
Uma dor a mais a gente agüenta

Não vá tentar colar ou cozer o que está roto?
Tem coisas que nem ligam e nem se emendam
 Há saltos, como eu, que não se colam
E rabo, como tu, de saia
 Não têm conserto.

Quem vive de perna em perna de calça
Não sabe e nem lhe passa pela mente
As varizes que teceu sem piedade
Num velho e ainda novo coração
(carniça, que de longe a gente sente)

Você que leu ou que pisou
Recolha-me
Logo ali vai ver um cesto
Cuidado!
Tem dor que provoca cada efeito
Não vá me pegar de qualquer jeito
Não sei quando estou molhado ou seco

Então, tape o nariz, não perca tempo
Se grudo em suas mãos, mesmo que tente
Não vai tirar a nódoa que inda vaza
Do esgoto a céu aberto no meu peito

Então, “bola ao cesto”
Preserve o ambiente (ele merece)
Favor, modestamente, eu agradeço



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