A volúpia do somente
Cansei
destes olhos incandescentes
Desta chama bruta do tão somente
Ter-me em breves momentos
[e mais nada]
Cansei da volúpia do desejo inconsequente
Que tortura a alma que te sente
E não consegue dizer-te: Não mais!
Cansei do sofrimento atordoado
Travestido de prazer insaciado
Exalando descontentamento
Mas, por fim, a ti me entrego dizendo-me: –
Basta!
Aceitando o rio que transborda e passa…
Levando o amor próprio que antes me pertencia
Um dia, no entanto, partirás sem volta
Ainda que seja só de minha memória
Fantasma vil e amado
que me embriaga e atormenta.
Meus beijos sumirão de tua boca
Secarão a lascívia que entoas
Fosse eu um verdadeiro prêmio
A saudade chegará, está claro!
E não terá pressa em deixar-nos,
Tu feito de carne, eu de sentimentos.
Pedirás então para voltar
Ceder aos desígnios do eternamente estar
E jamais alcançar a essência do ser
Mas se disseres que me ama de verdade, ó meu
amor,
Quiçá a saudade me faça covarde
E eu ceda novamente.
Pobre ímpeto que me consome
Somos cúmplices de um mesmo crime, de fato
Réus confessos [e consones]
Desequilibrando-nos sobre o mesmo fio
Dando-me cegamente a algo que não existe, deveras
E tu, sendo corpo e alma de ninguém
Mergulhamos num abjeto efeito placebo
Viajamos sem rumo além dos montes
Porém moramos sempre no mesmo eterno horizonte
Não pertencemos nem sequer a nós mesmos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Gostou do poema ou da postagem? Deixe aqui sua opinião.