domingo, 26 de abril de 2015

A volúpia do somente, de Renan Silva


A volúpia do somente


Cansei destes olhos incandescentes
Desta chama bruta do tão somente
Ter-me em breves momentos
[e mais nada]

Cansei da volúpia do desejo inconsequente
Que tortura a alma que te sente
E não consegue dizer-te: Não mais!

Cansei do sofrimento atordoado
Travestido de prazer insaciado
Exalando descontentamento

Mas, por fim, a ti me entrego dizendo-me: – Basta!
Aceitando o rio que transborda e passa…
Levando o amor próprio que antes me pertencia

Um dia, no entanto, partirás sem volta
Ainda que seja só de minha memória
Fantasma vil e amado
que me embriaga e atormenta.

Meus beijos sumirão de tua boca
Secarão a lascívia que entoas
Fosse eu um verdadeiro prêmio

A saudade chegará, está claro!
E não terá pressa em deixar-nos,
Tu feito de carne, eu de sentimentos.

Pedirás então para voltar
Ceder aos desígnios do eternamente estar
E jamais alcançar a essência do ser

Mas se disseres que me ama de verdade, ó meu amor,
Quiçá a saudade me faça covarde
E eu ceda novamente.

Pobre ímpeto que me consome

Somos cúmplices de um mesmo crime, de fato
Réus confessos [e consones]
Desequilibrando-nos sobre o mesmo fio

Dando-me cegamente a algo que não existe, deveras
E tu, sendo corpo e alma de ninguém
Mergulhamos num abjeto efeito placebo

Viajamos sem rumo além dos montes
Porém moramos sempre no mesmo eterno horizonte
Não pertencemos nem sequer a nós mesmos.


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