sexta-feira, 24 de abril de 2015

Canto II, poema I, de Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima



















Canto II, poema I, de Invenção de Orfeu


É preciso falar-se das criaturas,
verdadeiras criaturas animadas,
das vivências totais, arbítrio e tudo,
alma, corpo funesto e essa imortal


perpetuidade além, Deus nas alturas
nomes de terra e nomes eternados,
anjos, demônios, sonhos acordados
e as profecias, fúrias, posses, tudo


que um poema pode ter: esse clamor
essa indefinição, esses apelos,
— sonho de rei Nabucodonosor,

que depois de refeito e decifrado
é a condição de bicho: carne, pêlos,
e sangue breve do homem desgraçado.



(Poema I, do Canto II - Subsolo e Supersolo, do livro A Invenção de Orfeu, de 1952. In Jorge de Lima: Poesias Completas, de 1974, José Aguilar Editora, vol. III, p. 74.)

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