Canto II, poema I, de Invenção de Orfeu
É preciso falar-se das criaturas,
verdadeiras criaturas animadas,
das vivências totais, arbítrio e tudo,
alma, corpo funesto e essa imortal
perpetuidade além, Deus nas alturas
nomes de terra e nomes eternados,
anjos, demônios, sonhos acordados
e as profecias, fúrias, posses, tudo
que um poema pode ter: esse clamor
essa indefinição, esses apelos,
— sonho
de rei Nabucodonosor,
que
depois de refeito e decifrado
é
a condição de bicho: carne, pêlos,
e
sangue breve do homem desgraçado.
(Poema
I, do Canto II - Subsolo e Supersolo, do livro A Invenção de Orfeu, de
1952. In Jorge de Lima: Poesias Completas, de 1974, José Aguilar Editora, vol.
III, p. 74.)
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