sexta-feira, 10 de abril de 2015

Cartomancia, de Rosália Sandoval



                                       
             

                                  





CARTOMANCIA


Deita as cartas prá mim, bohemia linda
— Disse a mais linda filha de um ricaço —
Não sabes? O meu pai é o “rei do aço”,
o mais rico senhor desta cidade.
Eu te encherei as mãos de grandes notas,
se tu, gitana linda, me disseres
da minha sorte
     toda a verdade.

As cartas se cruzam muitas vezes
como, na vida, cruzam-se os revezes
ao olhar perscrutador de um adivinho


A Dama de Ouro és tu, disse a bohemia.
O Rei de Ouro é teu pai. Outra figura...
Não veio em teu caminho.

Estende-se em teu mundo interior
um grande sonho
que será luz e será treva em teu viver.
Vejo projetos de altruísmo,
surtos de idealismo...
Porém, te afirmo
que tudo isso te fará sofrer.

Cercam-se as cartas pretas!
Tudo parece cor das violetas...
Não queira mais saber o teu destino.
A moça estremeceu. Mas, resoluta,
Disse: —  Que importa seja a vida grande luta?
Continua a dizer... Não desanimo.

E a cartomante, em voz quase apagada
olhando aquela vida iluminada
pelo ouro...
Tristonha concluiu a profecia:

— Bem cedo acabará tua alegria
pobre bonina apenas desbrochada.
Terás a noite ainda na alvorada...
Serás a flor em breve desprendida
para a tristeza e as lágrimas da vida.

No futuro, terás somente dores,
a desventura em todos os amores...
Ninguém fará cessar os teus gemidos.
Julgarão mal o bem que tu fizeres!
Espinhos te darão por malmequeres...
E morrerás
            Da grande dor dos incompreendidos.


Página da GAZETA DE NOTÍCIAS,
Rio de Janeiro, de 22 de agosto de 1915, com a publicação do poema Cartomancia. Fonte:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou do poema ou da postagem? Deixe aqui sua opinião.

Diga o que achou do blog ou de algum poema. Agradecemos desde já seu contato.

Nome

E-mail *

Mensagem *