CARTOMANCIA
Deita as cartas prá mim, bohemia linda
—
Disse a mais linda filha de um ricaço —
Não
sabes? O meu pai é o “rei do aço”,
o
mais rico senhor desta cidade.
Eu
te encherei as mãos de grandes notas,
se
tu, gitana linda, me disseres
da
minha sorte
toda a verdade.
As
cartas se cruzam muitas vezes
como,
na vida, cruzam-se os revezes
ao
olhar perscrutador de um adivinho
A
Dama de Ouro és tu, disse a bohemia.
O
Rei de Ouro é teu pai. Outra figura...
Não
veio em teu caminho.
Estende-se
em teu mundo interior
um
grande sonho
que
será luz e será treva em teu viver.
Vejo
projetos de altruísmo,
surtos
de idealismo...
Porém,
te afirmo
que
tudo isso te fará sofrer.
Cercam-se
as cartas pretas!
Tudo
parece cor das violetas...
Não
queira mais saber o teu destino.
A
moça estremeceu. Mas, resoluta,
Disse:
— Que importa seja a vida grande luta?
Continua
a dizer... Não desanimo.
E
a cartomante, em voz quase apagada
olhando
aquela vida iluminada
pelo
ouro...
Tristonha
concluiu a profecia:
—
Bem cedo acabará tua alegria
pobre
bonina apenas desbrochada.
Terás
a noite ainda na alvorada...
Serás
a flor em breve desprendida
para
a tristeza e as lágrimas da vida.
No
futuro, terás somente dores,
a
desventura em todos os amores...
Ninguém
fará cessar os teus gemidos.
Julgarão
mal o bem que tu fizeres!
Espinhos
te darão por malmequeres...
E
morrerás
Da grande dor dos incompreendidos.
Rio
de Janeiro, de 22 de agosto de 1915, com a publicação do poema Cartomancia. Fonte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Gostou do poema ou da postagem? Deixe aqui sua opinião.