Darei a meu filho
O que nunca tive:
O medo da morte,
O sono tranquilo,
As noites velozes,
Os dias felizes.
A ele deixarei
As coisas fugazes:
Tons crepusculares,
Parcelas de sonhos,
Calma dos luares.
Dele ocultarei
O que me feriu:
A espera infinita
Do amor constante,
A certeza plena
Da insatisfação,
O inconformismo
Ante o inevitável.
Legado paupérrimo,
Este que lhe deixo:
Caldeirões de dúvidas,
Frases imperfeitas,
Sons quase inaudíveis
Que se perdem n'alma.
Restos de memória,
Fatos consumados,
Tentativas vãs
Da vida consumida.
(Do livro O
Clamor da Pedras,
de 1997, p. 35.)
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