quinta-feira, 21 de maio de 2015

Um ser natimorto, de Simone Moura e Mendes











Um ser natimorto


Gotejam-lhe as palavras e são cuspidas a esmo
no vácuo, sem sentido nem sentimento
e o pensamento está no peito amordaçado
pelos grilhões de sua nauseabunda existência

Afoga-se no pranto sem a vértebra da razão
e desfralda-se no sereno, ao relento
no desvão, nos pântanos da desilusão
qual bandeira rota de pátria combalida
e, pelo esquecimento, encardida, descolorida

Perdera o rumo, o prumo, a guia do Mestre
e o élan de buscar e encontrar a bússola da vida
sua sorte, talvez, seja camuflar-se de si
sob a areia escaldante, na aridez do deserto

Melhor seria lançar-se ao destino desatinado
e embrenhar-se na sua essência selvagem
sem traços, sem rédeas, sem marcas, sem mapas
e, sem passado, lembrar-se de si como um ser natimorto
como ventania, como um nada mais que uma miragem
como um equívoco inaceitável e perverso da criação



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou do poema ou da postagem? Deixe aqui sua opinião.

Diga o que achou do blog ou de algum poema. Agradecemos desde já seu contato.

Nome

E-mail *

Mensagem *