A
Incrível Prisão de Rui de Castro
Numa
cidade pequena,
as moscas
estão muito próximas das pessoas.
Rui não
está embriagado no bar central,
com os
olhos de molho no copo seco,
molhado de
espuma seca,
ouvindo
músicas ao violão deserdado de Etênio,
o
ex-hippie, porque Rui está em casa
com os
olhos molhados, enfiados num livro sem fim.
E, se
acaba, botam-lhe outro entre as mãos e o cérebro,
um pouco
ante os olhos molhados
de alguma
coisa feito solidão.
Rui não
está na calçada da igreja local,
ouvindo as
taras da juventude local,
entre umas
pernas e outras das moças passando
após as
conversas com o padre,
morrendo
de medo das moças fantasiadas
morrendo
donzelo, culpado,
enviando-se
na alta calçada de cimento
querendo
sumir por baixo da porta.
Rui não
está lá, nem na porta da farmácia,
onde
velhos e novos fazendeiros contam os bezerros
vacinados
ontem por medo da febre aftosa
e
vomitaria nas botas novas dos senhores proprietários
porque Rui
de Castro está em casa,
sem peito
para nada, sem jeito para nada.
Rui de
Castro não passeia pelas ruas pequenas,
malfeitas,
porém belas,
por
simples horror dos cumprimentos efusivos
ou não
efusivos.
Basta
apenas um alô para desconcertá-lo
e pô-lo
em fuga dolorida, a alma exposta pelo avesso;
assim,
ultra-sensível ao vento dos lábios
de quem
quer que seja mais.
Ele era um
rapaz da cultura ou contracultura;
aprendeu
inglês ouvindo os Beatles mas,
eu não
sei quando nem como,
alguma
coisa de humano se perdeu e mora, cara,
numa
cidade tão mínima cabendo toda neste poema.
E Rui
nunca mais foi ao rio porque Rui, há muito tempo,
é um rio
correndo inexorável para dentro do mar,
com a
desvantagem de ser um rio sem margem.
Essa é uma das poesias que mais toca minha alma... Grande Zé Paulo...
ResponderExcluirSim, grande mesmo o Zé Paulo! Obrigado pela visita!
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